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Por quê sofrer com uma
hérnia de disco ?
Prof. Dr. Francisco Theophilo
Existe uma velha questão médica
sobre a hérnia de disco, em que se pergunta se o melhor tratamento é repouso, fisioterapia, remédios,
acupunctura, quiropraxia, tração, ou do lado oposto à medicina conservadora, a
cirurgia.
A resposta à esta velha questão passa pela análise de uma série de fatores, que a
tornam peculiar dentro das chamadas doenças passíveis de cura cirúrgica.
Primeiro: As manifestações clínicas
da hérnia de disco que no caso da coluna cervical são as dores no pescoço e nuca com irradiação
para um ou ambos os braços e na coluna lombar a famosa lombalgia (dor-nas-costas) também com irradiação
para uma ou ambas as pernas, podem ser também parte ou sintoma de outras enfermidades, por isso estes
sintomas exigem esclarecimento médico.
Segundo: A hérnia de disco
não é uma doença que leva à morte.Terceiro: Como se trata de doença cujo sintoma principal é
dor, e sendo a dor um fenômeno biológico subjetivo, esta dor se manifesta em diferentes
indivíduos com diferentes intensidades e diferentes reações à dor.
Ao contrário
de um aneurisma cerebral por exemplo, em que a indicação operatória é absolutamente
imprescindível ( se não o paciente pode morrer), a hérnia discal apresenta-se raramente
de forma muito aguda, sendo em episódios repetidos na maioria das vezes, permitindo com isso
que seu portador pense bastante na sua doença, ouça as mais diversas opiniões e por fim
decida-se quanto ao seu tratamento.
A hérnia de disco, é uma doença do tipo
degenerativa (depende de uma sinalização genética ou tendência do individuo para acontecer)
em que por enfraquecimento dos ligamentos intervertebrais e perda de flexibilidade do disco intervertebral,
o mesmo em determinado momento sai de seu lugar e entra para dentro do canal espinhal, onde sua presença
passa a comprimir uma raíz nervosa causando a dor já descrita acima e outras manifestações
de disfunção neurológica desta raíz comprimida.
Ora, sabendo-se a
causa do sintoma, a melhor maneira de tratá-lo é eliminando o que o está provocando, neste
caso retirando-se o disco que está herniado. Porém, para que isto aconteça de forma absolutamente
correta, é preciso saber-se com certeza se há ou não uma hérnia de disco. Antigamente,
para se ter esta certeza era necessário submeter o paciente a um exame contrastado do canal espinhal,
a mielografia, que era um exame agressivo, com algum risco de infecção ou de sintomas
desagradáveis pela perda de alguma quantidade de líquido da espinha. Os médicos então,
pensavam bastante antes de indicar um exame agressivo, e antes disso tentavam tratar o paciente com fisioterapia,
antiinflamatórios e repouso. Apenas os casos francamente repetidos e de intensidade suficiente
eram levados à mielografia e depois à cirurgia, que também era um procedimento de grande
porte com o paciente sofrendo uma internação e recuperação prolongada. Daí
a razão histórica do medo popular quanto à hernia de disco.
Ora, a fisioterapia,
quiropraxia, repouso e antiinflamatórios só funcionam nos casos de "protrusão"
do disco, em que o mesmo responde às pressões das vertebras "saindo" um pouquinho de
seu lugar, sem no entanto romper o ligamento e por isso com o tratamento conservador, voltando ao seu
lugar e tornando o paciente assintomático. Já nos casos de "prolapso", ou seja hérnia
de disco mesmo, o disco herniado não retorna ao seu lugar original em hipótese nenhuma, e o paciente
só tem chance de cura com a cirurgia. Aqueles pacientes portadores realmente de hérnia
de disco que não se operam, seguem o curso da doença, com crises repetidas, que melhoram quando
repousam e tomam antiinflamatórios, porque o remédio diminui a reação do nervo e
o repouso impede que os movimentos provoquem maior compressão do nervo. Quando o paciente melhora e volta
à suas atividades físicas normais, o processo se reinicia gerando nova crise. A coisa
segue assim até que o disco prolapsado (herniado) desidrate (perca volume por desidratação),
o que ocorre em mais ou menos um ano, ou o nervo definitivamente morra por compressão, cessando a dor,
porém causando em definitivo um déficit motor e outro sensitivo, o que para uns pode significar
um movimento à menos na mão/braço ou no pé/perna.
Nos dias atuais, a
situação mudou completamente de figura. Primeiro, porque o diagnóstico é feito de
forma não agressiva através da tomografia computadorizada e da ressonância nuclear magnética
(exames isentos de risco e não invasivos), permitindo que o médico tenha certeza se
existe uma hérnia de disco ou outra doença como tumores espinhais, neurites, ou mesmo uma artrose
de coluna. Segundo porque uma vez selado o diagnóstico, já se sabe o curso natural da doença,
e a cirurgia abreviaria este curso. Terceiro, porque as técnicas neurocirúrgicas hoje
permitem ao paciente ser submetido à microcirurgia corretiva, tomando uma anestesia venosa de curta duração
(acordando na sala), ter o seu disco herniado extirpado através de minúscula incisão, receber
um curativo impermeável e poder inclusive ir à piscina para hidroterapia no próprio dia
da operação. Nos casos de hérnias cervicais a técnica moderna permite o uso de um
implante de titânio com enxerto de pó de osso do quadril modificando o que causava dor no pós-operatório,
que era a retirada de enxerto do quadril em bloco. Em ambos os casos, cervical e lombar, o paciente hoje vai
para casa no final do dia da operação ou no dia seguinte pela manhã, sendo mobilizado praticamente
logo após o procedimento.
Enfim, os argumentos que ora são apresentados visam
exclusivamente ao esclarecimento de que para os casos reais de hérnia de disco, o melhor é certamente
a intervenção cirúrgica, que pela sua segurança, rapidez de resolução,
e eficácia, causados pelas técnicas modernas de microcirurgia aliados à certeza diagnóstica
das imagens, dispensam o paciente do sofrimento prolongado do repouso no leito, dos efeitos colaterais dos antiinflamatórios,
e das crises sucessivas.
Hoje em dia, é muito comum ouvir-se do paciente recém
operado, que passou muito tempo se submetendo à tratamentos alternativos antes da operação,
que se soubesse que era assim, não tinha perdido tanto tempo e sofrido tanto. Por experiência
própria, como paciente de hérnia de disco: Como é bom ir à piscina no dia em que
nos vemos livres de tal dor.